A nova Capital Mineira – Belo Horizonte

O governo do Estado dirigiu para a nossa região uma série de projetos estruturantes como não se via há mais de trinta anos. Estes projetos transformam a nossa região no foco do desenvolvimento do Estado de Minas.
O Aeroporto foi o primeiro passo. Junto a ele vem agregado algumas particularidades como o conceito aeroporto indústria e porto seco. Isto significa que o aeroporto, cumprirá a função de receber e enviar cargas além de passageiros. Como aeroporto industrial seu entorno imediato será ocupado por uma série de atividades industriais voltados para produtos de alta tecnologia e preços. Ali já está instalada e já em processo de ampliação a oficina de manutenção de aviões da Gol Linhas Aéreas. Também está para ser instalada a oficina de manutenção de turbinas, que atenderá a toda a America Latina. Ainda falta a instalação de outro segmento, o do mercado de produtos eletro-eletrônicos que tem previsto um pólo industrial a ser implantado em Vespasiano. É o chamado pólo da informática. Também existe o Parque Tecnológico da UFMG/Belo Horizonte.
A Linha Verde com o Boulevar Arrudas foi o segundo passo. Cumprindo o objetivo de melhorar e agilizar o trânsito entre o aeroporto e o centro da capital, foi construída em tempo recorde. Mas ainda deixou gargalos onde o transito ainda se arrasta como os cruzamentos do trevo do bairro Guarani, do túnel da Cidade Nova e do túnel da Lagoinha.
O Centro Administrativo do Estado de Minas Gerais está acontecendo. Cumprirá a função de aglutina toda a gestão estadual em um só lugar. Com assinatura do Oscar Niemayer, arquiteto de reconhecimento internacional e que desenhou o conjunto da Pampulha, o Centro Administrativo será o cartão de visita da pujança do Estado. Esta mudança trará também uma mudança geopolítica para a nossa região, pois a sua localização fará com que os municípios de Vespasiano, Santa Luzia e Ribeirão da Neves codividam com Belo Horizonte a função de capital. Também será responsável por uma mudança de rotas das pessoas que a ele se dirigirão diariamente. Serão19 mil funcionários e previstos 10 mil visitantes. Com estas premissas, a região certamente ganhará mais moradores, condomínios de luxo e o progresso.
O Anel Viário do Vetor Norte Metropolitano, será o próximo grande passo. Saindo de área próxima ao porto seco de Betim, com seus 67 quilômetros alcançará a BR 381, em Ravena no município de Sabará, cortando a nossa região por Ribeirão das Neves, Pedro Leopoldo, Vespasiano, Santa Luzia, e ladeando com São José da Lapa. Cumprirá algumas funções, dentre elas a para com o acesso a ao aeroporto. Também será opção de trânsito para o antigo anel viário de Belo Horizonte, interligando as rodovias que cortam o Estado e fazendo a conexão com as principais capitais e portos do país. Sua localização também trará mudanças significativas para a realidade da região, fomentando a implantação de indústrias, a ocupação do solo e a chegada do progresso.
Outras rodovias estão previstas: Anel de Contorno do Aeroporto ligando a MG 424 em Confins, à MG 10 no Campinho em Lagoa Santa ; Anel de Contorno de Matozinhos; Duplicação da MG 424 até Sete Lagoas. A facilidade de acesso fará uma revolução regional.
Impactos serão inevitáveis. O modelo de progresso hoje praticado cria sonhos de realizações e sucesso, mas esquecem de questões fundamentais. O meio ambiente e as questões sociais nem sempre são contemplados. Regras claras para o parcelamento do solo ficam em sua maioria das vezes muito flexíveis e sujeita às pressões econômicas. A capacitação da população também é relegada para segundo plano, juntamente com ações de saneamento básico. Neste modelo os problemas se acumulam em ocupações desordenadas, construções em encostas, margens de córrego, esgoto jogado direto nos rios sem tratamento, canalização de cursos d’água, impermeabilização do solo, problema com a destinação do lixo, desmatamentos dos remanescentes florestais, seca de nascentes e etc.
A nossa região já é uma região com todos estes problemas pelo modelo que seguiu nos últimos trinta anos. A explosão demográfica foi marcante em vários municípios da bacia do ribeirão da Mata. Nossos córregos e ribeirões estão degradados e poluídos. Boa parte da população não tem sistema de esgotamento sanitário, e quando tem o mesmo não é tratado. Metade da região é cárstica. Esta particularidade que a faz rica em patrimônios, colocando-a em destaque mundial na arqueologia, na paleontologia, na espeleologia e como província produtora de calcário também a coloca em posição de risco. O solo é altamente permeável, repleto de cavernas e dolinas. A contaminação do lençol de águas subterrâneas fica facilitada. Desmoronamentos já foram registrados em áreas urbanas em Sete Lagoas e em Matozinhos parte da cidade está sobre dolinas, inclusive seu cemitério, e tem uma escola interditada por trincas provocadas por abalos. A cidade de Confins está assentada no fundo de uma uvala. Temos ainda o conflito dos sítios arqueológicos localizados exatamente nos maciços calcáreos que são as fontes da matéria prima do cimento. E o progresso vem aí.
Como minimizar os impactos? Ações estão sendo tomadas e foram nos últimos tempos a preocupação da sociedade local. Uma série de condicionantes a este empreendimentos estruturais citados foram negociados buscando relativizar os problemas. Podemos citar algumas ações como o Sistema de Áreas Protegidas do Vetor Norte Metropolitano – SAP, o Programa de Saneamento da Bacia do Ribeirão da Mata, a implantação do Parque Estadual do Sumidouro e do Parque Serra Verde, as Oficinas da Secretaria de Estado de Desenvolvimento e Políticas urbanas – SEDRU, o incentivo ao turismo regional pela implantação da Linha Lund, a luta pela revitalização dos rios e córregos pela Meta 2010, a regulação fundiária e compatibilização dos Planos Diretores Municipais conduzida pela SEDRU no âmbito da implantação da Região Metropolitana de Belo Horizonte –RMBH. Mas será isto suficiente?
Temos ainda brechas não preenchidas e questões não respondidas. A capacitação da população se fará como? Só teremos pessoas de fora ocupando as funções mais bem remuneradas dos empregos gerados? Para a população local sobrará ser treinada para funções operacionais? O que é pior para a mineração: ter áreas protegidas ou ocupadas pelo parcelamento do solo ao lado de suas lavras? Como criar produtos turísticos eficazes e capacitar a população efetivamente para este filão econômico pouco explorado numa região que tem tanto a oferecer por ser reconhecida mundialmente? Como convencer às administrações municipais que a solução é a ação integrada após planejamentos estratégicos entre os municípios, o estado e a união? As obras de saneamento básico que estão acontecendo mal atendem a realidade atual, como solucionar para o futuro? Como fazer para que este desenvolvimento seja sustentável?
Tudo tem sua hora exata para acontecer. Algumas ações são almejadas por anos e anos a fio e nada se consegue. Um dia chega o momento de concretização. E o momento é agora. Cabe aos governantes regionais e aos moradores aproveitar o momento se colocarem em ação. È a hora de botar projetos em andamentos, fomentar o progresso a partir de debates que provoquem um modelo de respeito à cidadania e às regras da natureza. Podemos construir uma região invejável. Depende de nós.
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Artigo escrito por Procópio de Castro, mobilizador do Projeto Manuelzão e presidente do Sucomitê do Ribeirão da Mata. Ilustração: Reprodução